sexta-feira, 20 de julho de 2007

O Retrato de Dorian Gray de Pierre Boutron


O Retrato de Dorian Gray foi adaptado ao cinema em 1977 pelo realizador francês Pierre Boutron, que também escreveu o argumento. Raymond Gerôme (Lord Henry Wotton), Patrice Alexsandre (Dorian Gray), Marie-Hélène Breillat (Sybil) e Dennis Manuel (Basil) são os principais actores.
Dorian Gray aproxima-se do mito de narciso ou, do mito faustiano onde, em prol dos prazeres mundanos abdica da alma. Dorian, um jovem, belo e aristocrata inglês no contexto da época vitoriana, aceita posar para o pintor Basil Hallward. O retrato de Dorian Gray é sublime, e este contempla a sua imagem com o profundo desejo de que esta assim se perpetue não na tela, mas no seu rosto. O sonho seria que a velhice se manifestasse apenas e só no retrato.

O Retrato de Dorian Gray de Oscar Wilde (1854-1900)


A sociedade que critica é superficial, fútil e hipócrita. É nela que Oscar Wilde encontra os estereótipos que lhe servem de inspiração para as personagens, sem nunca promover meras imitações da vida. Para o escritor, habituado ao escárnio da crítica, mais interessada na sua vida privada do que na sua obra literária, a arte, suprema manifestação do génio, estava sempre sujeita a qualquer apreciação.
Em Dorian Gray Oscar Wilde convida à reflexão sobre os padrões de beleza em cada sociedade, em cada época, envelhecimento versus juventude, a procura de novas sensações a qualquer preço.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Crime e Castigo de Dostoievski (1821-1881)



Datado de 1866, este é o primeiro dos grandes romances que Dostoiévski escreveu já em plena maturidade literária, sendo, provavelmente, a mais bem conhecida de todas as suas obras. Recriando um estranho e doloroso mundo em torno da figura do estudante Raskólnikov, perturbado pelas privações e duras condições de vida, é uma das obras por excelência fundadoras da modernidade. Pelo inexcedível alcance e profundidade psicológica, sobretudo no que implica a exploração das motivações não conscientes e a aparente irracionalidade nos comportamentos das personagens, este autor russo tornou-se uma referência universal na literatura, sem perda de continuidade até aos nossos dias.
O seu estilo, inconfundível, distingue-se por uma tensão nervosa exacerbada, por uma espécie de vibração interior. Os protagonistas são geralmente criminosos, doentes ou loucos, sempre fora da normalidade. São personagens que vivem numa crise contínua; no seu interior produz-se uma dramática luta entre as forças do bem e do mal.

Match Point de Wood Allen



Match Point vai buscar imagens do ténis, a ideia da importância do acaso e da sorte na vida de uma pessoa, alguma inspiração a Crime e Castigo, de Dostoievski, e o assunto de outro filme do realizador, Crimes e Escapadelas (1989) - a possibilidade de se viver com a culpa de um assassínio na consciência.
Não é difícil comprovar que o filme de Woody Allen, de diferentes formas, filia-se na tradição romanesca. Desde a citação explícita a Crime e castigo, romance que também é uma das bases de construção do enredo do filme, à utilização de estruturas temáticas ligadas aos romances do século XIX (arrivismo e ascensão social mesclados com impulsos eróticos, infidelidade conjugal e crime). Allen privilegia aqui a ambiguidade da relação narrador-personagem, ora distanciando-se (com comentários off, como o belo plano inicial, da bola parada sobre a rede), ora fundindo-se na personagem, como no caso das árias de óperas, que mais não são um rasto sonoro, revelando o próprio pensamento/sentimento do protagonista.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Campo de Trigo com Corvos VAN GOGH (1853-1890)


Os trabalhos finais de van Gogh são um paradoxo o que, provavelmente, nenhum outro trabalho mostrará melhor do que “Campo de Trigo com Corvos” . Durante toda a sua vida vendeu apenas um quadro, embora tivesse pintado um vasto número de obras, travando uma amarga batalha contra a pobreza, o alcoolismo e a insanidade. Nasceu, em Groot-Zundert no dia 30 de Março de 1853. Van Gogh não se enquadra em nenhuma escola de pintura, embora a sua extraordinária percepção de cores possa ter tido origem nas teorias impressionistas. Era vítima de uma doença psicológica incurável, tendo sido internado, voluntariamente, pela primeira vez, em St-Rémy-de-Provence, após o célebre episódio em que cortou parte da sua orelha e ofereceu a uma prostituta de uma bar que costumava frequentar. Acabou por falecer dia 29 de Julho de 1890, dois dias após ter dado a si próprio um tiro do peito que acabou por ser fatal. Foi enterrado no cemitério de Auvers.

Sonhos de Akira Kurosawa (1910-1998)


Através da narração de oito sonhos, Kurosawa brinda-nos com um verdadeiro poema onde são tratados temas como a honra, o medo, a morte, a arte, a preservação ambiental, entre outros.
O trabalho de Kurosawa, como sempre, é excelente, o que é realçado pelas belíssimas fotografias de Takao Saitô e Masaharu Ueda, principalmente nos segmentos "O Pomar dos Pêssegos" e "Corvos". Neste último, o cineasta presta homenagem ao pintor holandês, Vincent Willem van Gogh, ao fazer com que um jovem pintor penetre nas suas telas e passeie pelos locais por ele retratados, incluindo o famoso "Campo de Trigo com Corvos".
Todos os segmentos carregam uma importante mensagem, terminando com a utópica "Aldeia dos Moinhos", onde o homem viveria feliz em completa harmonia com a natureza.

terça-feira, 17 de julho de 2007

O processo de Franz Kafka


Josef K. acorda e depara-se com agentes da justiça dentro de seu próprio quarto. Estes vieram comunicar-lhe o envolvimento num processo famigerado no qual ele teria que responder. Josef K. não fazia ideia do que se tratava e ninguém, nem mesmo os funcionários da justiça, o informavam sobre o assunto. É assim que começa mais um dos alucinantes pesadelos kafkianos, conhecidos por fazer os seus personagens viverem episódios angustiantes e insólitos. Na essência Kafka, obriga-nos a reflectir sobre as incertezas humanas.

O Processo de Orson Welles


Numa certa manhã, um homem, Joseph K. é preso e acusado de um estranho crime que não cometeu. Versão bastante fiel do romance de Franz Kafka, esta é uma brilhante a actuação de Anthony Perkins e a cenografia noir criada por Orson Welles. Welles expõe um Joseph K. imerso num mundo da burocracia sinistra que o envolve cada vez mais. Não há redenção possível para o pequeno homem. O mundo social de Joseph K. é um mundo da barbárie social, onde grandes estruturas tecnocráticas cinzentas, corruptas e mal administradas esmagam homens e mulheres, espoliados e desafectados dos seus valores morais.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Manhã Submersa de Lauro António


O filme descreve uma sociedade num país em que vive sob regime ditatorial e tenta subjugar o desejo e anseios individuais com um cruel despotismo.
Anos 40. A experiência desencantada dum jovem seminarista, António, vindo da aldeia e de modestas origens, sob a protecção duma senhora austera que, assim, se propõe arrancá-lo a um ambiente de miséria e ignorância. Sem vocação, António cederá à subtil prepotência de D. Estefânia, sacrificando-se pela promoção social da família.

Manhã Submersa de Vergílio Ferreira (1916 - 1996)


Vergílio António Ferreira nasceu em Melo, Gouveia, a 28 de Janeiro de 1916. Conhecido como "um escritor que se tem ocupado muito do "eu"", assim diz Virgílio Ferreira em "Um Escritor Apresenta-se", este existencialista foi desde muito novo assaltado por dúvidas, inquietações e interrogações que lhe marcaram profundamente a sua escrita e a sua personalidade.A emigração dos pais para a América do Norte quando tinha apenas dois anos de idade "obrigou" o escritor a ser educado por uma tia e pela avó materna dentro do catolicismo. Deste modo, ingressa no seminário do Fundão aos 10 anos, idade em que se vê mergulhado numa grande rigidez interna, na solidão e na hipocrisia, que retrata com exactidão no romance "Manhã Submersa".
Manhã Submersa descreve o despertar para a vida de uma criança, entre a austeridade da casa senhorial de D. Estefânia, a neve e a sensualidade da sua aldeia natal e o silêncio das paredes do seminário. Um jovem seminarista de doze anos, António Lopes, é pressionado a frequentar o seminário. O romance desenrola-se depois ao redor das vivências e sentimentos que o jovem seminarista vai experimentando. Naquele ambiente negro, triste, ríspido e severo do seminário, o jovem descobre-se e descobre o mundo que o rodeia: a repressão na educação, a pobreza da sua terra, as desigualdades sociais, o desejo do seu corpo em formação, a camaradagem, a amizade, o amor.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Lendo o Orpheu de Almada Negreiros


Fernando António Nogueira Pessoa (1888-1935)

É considerado um dos maiores poetas de língua portuguesa tendo seu valor comparado ao de Camões. Por ter vivido a maior parte de sua juventude na África do Sul, a língua inglesa também possui destaque na sua vida. Teve uma vida discreta, em que actuou no jornalismo, na publicidade, no comércio e, principalmente, na literatura, onde se desdobrou em várias outras personalidades conhecidas como heterónimos. A figura enigmática em que se tornou movimenta grande parte dos estudos sobre sua vida e obra, além do facto de ser o maior autor da heteronomia.
Morre de problemas hepáticos aos 47 anos na mesma cidade onde nascera, tendo sua última frase sido escrita na língua inglesa: "I know not what tomorrow will bring... ".

"Quanto mais eu sinta,

quanto mais eu sinta como várias pessoas,

Quanto mais personalidades eu tiver,

Quanto mais intensamente, estridentemente as tiver,

Quanto mais simultaneamente sentir com todas elas,

Quanto mais unificadamente diverso,

dispersadamente atento,

Estiver, sentir, viver, for,

Mais possuirei a existência total do universo,

Mais completo serei pelo espaço inteiro fora."

Almada Negreiros (1893-1970)


Escritor e artista plástico, José Sobral de Almada Negreiros nasceu em S. Tomé e Príncipe a 7 de Abril de 1893. Foi um dos fundadores da revista “Orpheu”(1915), veículo de introdução do modernismo em Portugal, onde conviveu de perto com Fernando Pessoa. Além da literatura e da pintura a óleo, Almada desenvolveu ainda composições coreográficas para ballet. Trabalhou em tapeçaria, gravura, pintura mural, caricatura, mosaico, azulejo e vitral. Faleceu a 15 de Junho de 1970 no Hospital de S. Luís dos Franceses, em Lisboa, no mesmo quarto onde morrera seu amigo Fernando Pessoa.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

A rapariga do Brinco de Pérola (quadro)


Johannes Vermeer (1632-1675) foi um pintor holandês, que também é conhecido como Vermeer de Delft ou Johannes van der Meer.
Vermeer viveu toda a sua vida na sua terra natal, onde está sepultado na Igreja Velha (Oude Kerk) de Delft.
É o segundo pintor holandês mais famoso do século XVII (um período que é conhecido por Idade de Ouro Holandesa, devido às espantosas conquistas culturais e artísticas do país nessa época), depois de
Rembrandt. Os seus quadros são admirados pelas suas cores transparentes, composições inteligentes e brilhante uso da luz.
Um dos quadros mais amados de sempre é um mistério. Pouco se sabe sobre a sua real inspiração. Isto porque a vida do seu criador, o holandês Johannes Vermeer, é envolta num grande mistério. Quem é a modelo e porque foi pintada? O se olhar, e enigmático sorriso será inocente ou sedutor? E porque usa ela um brinco de pérola?

A Rapariga do Brinco de Pérola


Um dos quadros mais amados de sempre é um mistério. Pouco se sabe sobre a sua real inspiração. Isto porque a vida do seu criador, o holandês Johannes Vermeer, é envolta num grande mistério. Quem é a modelo e porque foi pintada? O se olhar, e enigmático sorriso será inocente ou sedutor? E porque usa ela um brinco de pérola?
Holanda, 1665. Depois de o pai ficar cego devido a uma explosão, a jovem Griet vê-se obrigada a trabalhar para sustentar a família. Com apenas 17 anos, torna-se criada na casa de Johannes Vermeer, um pintor cuja atenção se começa a voltar para a jovem Griet. Apesar das diferenças dos dois mundos, Vermeer leva-a para o mundo da arte, e ela torna-se sua musa...
Uma bela e comovente história, baseada no Bestseller de Tracy Chevalier. Para escrever este romance, a escritora inspirou-se num dos quadros mais famosos do pintor Johannes Vermeer.
Realizador: Peter Webber

Os Respigadores e a Respigadora de Agnès Varda


Respigar: apanhar as espigas que ficam no campo depois de ceifado.
A partir de um célebre quadro de Millet, o filme de Agnès Varda é um olhar sobre a persistência na sociedade contemporânea dos respigadores, aqueles que vivem da recuperação das coisas que os outros não querem ou deixam para trás. A respigadora, nesse sentido, é Agnès Varda, que experimentando pela primeira vez uma pequena câmara digital, se assume como uma 'recuperadora' das imagens que os outros não querem ver nem fazer, e portanto deixam para trás. E no sentido mais radical, trata-se de mostrar que, de uma maneira ou de outra, todos somos respigadores da nossa própria existência, das suas matérias e as suas utopias.

Respigadoras


Jean-François Millet (1814-1875)

Pintor francês do século XIX, Jean-François Millet criou várias representações da vida no campo. Os seus quadros mais conhecidos são " O Angelus " e " As Respigadoras ". A partir de 1849, o pintor instala-se em Barbizon, perto da floresta de Fontainebleau. As suas manhãs eram passadas a cuidar do seu jardim, e as suas tardes eram dedicadas à pintura.Jean-François Millet queria mostrar ao mesmo tempo a rudeza e a nobreza do trabalho no campo. Ele representou muitas cenas da vida no campo, sem as idealizar, ao contrário do que faziam os seus contemporâneos.O pintor fazia no local os esboços que utilizava depois para compor os seus quadros.

A Ronda da Noite de Rembrandt


Esta pintura foi realizada para a companhia dos arcabuzeiros, destinada à grande sala do quartel da Guarda Civil. O protagonista da cena - em primeiro plano, vestido de preto - é Frans Banning Cocq (1605-1655), personagem muito conhecida em Amesterdão, a quem foi concedida a honra de comandar uma campanha da Guarda Civil, retratada no quadro.Vêem-se retratadas 28 personagens, para além das três crianças e de um cão. Reconhece-se a identidade de 18 personagens, enquanto, por outro lado, as figuras refulgentes das meninas em dourado são bastante enigmáticas.Este quadro tem alimentado ao longo dos tempos alguma especulação crítica sobre as verdadeiras pretensões de Rembrandt e até sobre a aparente escuridão da obra.

A Ronda da Noite de Agustina Bessa-Luis


Há muitas gerações que os Nabasco vivem sob a presença discreta e a posse de um quadro de grandes dimensões, uma cópia da famosa obra de Rembrandt, Ronda da Noite.A sua interpretação está ainda hoje, sujeita a controvérsia e a inúmeras vicissitudes, tal como sucedeu no seio dos Nabascos, com as hesitações de aquele seu quadro ter sido pintado também pelo próprio Rembrandt.Agustina desfia ficcionalmente a história da família, os seus amores e dramas, as suas vivências, a par com a presença indelével das figuras pintadas na Ronda da Noite. O último dos Nabasco vive e morre obcecado com uma interpretação impossível para ele de realizar.