segunda-feira, 11 de agosto de 2008

A Voz Humana de Jean Cocteau


A peça num único acto centra-se numa mulher que está em casa à espera de uma chamada do amante. Essa chamada chega e toda a acção desenvolve-se a partir da conversa entre os dois. A ligação cai frequentemente e, entretanto, pela forma como a narrativa sucede, vamo-nos dando conta de que esta é uma história já perdida; que aquela mulher se abandonou em nome de um amor; que aquele homem, mais do que ter pena dela, é um masoquista que não a consegue largar.
A mulher é inteira, mas ao mesmo tempo fragmentada. Escrava dos seus próprios sentimentos, ama genuinamente, tal como genuinamente odeia. E genuinamente perdoa, para genuinamente se querer vingar. E tem lucidez para dizer: “Claro, fui ridícula, mas se levei o telefone para a cama é porque ele apesar de tudo nos une ainda…”.As linhas caem, os fios soltam-se, tal como a ligação que a prende ao homem que ama. E esta visão do texto de Cocteau, apesar de se manter fiel a uma estética da primeira metade do século XX, consegue fazer com que o espectador do séc XXI entre no texto e sofra com ele.

Jean Cocteau (1889-1963)




"Não sabendo que era impossível, foi lá e fez".
Cocteau, que cultivou com êxito vários modos de expressão artística, deu um impulso decisivo a todas as correntes de vanguarda, especialmente ao surrealismo. Foi contudo na tradição literária que mais manifestou o seu talento. Especialmente importantes são suas peças de teatro e romances O Potomak (1919), Le Grand Écart (1923), Orfeu (1927), Os Filhos Terríveis (1929), A Voz Humana (1930), A Máquina Infernal (1934), Os Pais Terríveis (1938) e Baco (1951). Em A Bela e a Fera (1946) e Orfeu (1950) redimensionou, em confronto com os conflitos do presente, os mitos da época clássica.
Nascido numa pequena vila próximo a Paris, Jean Cocteau foi um dos mais talentosos artistas do século XX. Além de ser director de cinema, foi poeta, escritor, pintor, dramaturgo, cenógrafo e actor e escultor. Cocteau começou a escrever aos dez anos, aos dezesseis já publicava suas primeiras poesias. Todos ricos em simbolismos e imagens surreais. É considerado um dos mais importantes cineastas de todos os tempos.