segunda-feira, 11 de agosto de 2008

A Voz Humana de Jean Cocteau


A peça num único acto centra-se numa mulher que está em casa à espera de uma chamada do amante. Essa chamada chega e toda a acção desenvolve-se a partir da conversa entre os dois. A ligação cai frequentemente e, entretanto, pela forma como a narrativa sucede, vamo-nos dando conta de que esta é uma história já perdida; que aquela mulher se abandonou em nome de um amor; que aquele homem, mais do que ter pena dela, é um masoquista que não a consegue largar.
A mulher é inteira, mas ao mesmo tempo fragmentada. Escrava dos seus próprios sentimentos, ama genuinamente, tal como genuinamente odeia. E genuinamente perdoa, para genuinamente se querer vingar. E tem lucidez para dizer: “Claro, fui ridícula, mas se levei o telefone para a cama é porque ele apesar de tudo nos une ainda…”.As linhas caem, os fios soltam-se, tal como a ligação que a prende ao homem que ama. E esta visão do texto de Cocteau, apesar de se manter fiel a uma estética da primeira metade do século XX, consegue fazer com que o espectador do séc XXI entre no texto e sofra com ele.

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